quarta-feira, 19 de novembro de 2014

I

Preciso escrever-te uma carta boba.
Dessas que parecem velharia infame,
pieguice sem limites
que as mães escrevem para as seguintes gerações.

Perdoe-me pelo arritmo,
pela segunda do singular,
pela ênclise...
Isso, tu verás que é tão inútil
quanto a rima
que esqueci de te apresentar.

Preciso que saibas coisas tontas.
Como, por exemplo, que eu o amo.
E que tenho medos pueris de te encontrar.

Quero que entendas que tenho medo.
De ti,
do quão forte podes segurar os meus dedos
e o meu peito
quando eu estiver a te ninar.

Nas minhas fantasias egocêntricas, sei que guardarás
tais pedaços da minha fala
quando eu daqui me aporrinhar
e te abandonar ao sabor do teu próprio tempo,
teu próprio corpo,
teu próprio medo.

Preciso que saibas que passei dezenas de horas
a te imaginar pessoa
a sofrer essa mesma angústia
que vivo agora.