quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Materlidão

Sozinha.
É sozinha que eu te cozinho, criaturinha,
na minha barriga,
numa sopa amniótica primordial.
Ninguém ao meu redor seria capaz de diminuir essa solidão...
Tudo o que é dito é tão raso.
Não me acalanta,
não me alimenta.

(A verdadeira empatia, quando há, é tão silenciosa que faz doer o meu ouvido).

Nunca saberia como é esse choro latente,
essa sensação pavorosa,
se não a permitisse...
O gozo não valeria nem um segundo dessa agonia.

O gozo não valeria a dor
de te saber ser finito, filho.
Nem da minha própria morte, lenta, em nove meses...

Já não serei esta que conheço
nem nenhuma outra que já fui.

Serei uma
ainda mais inacabada.
Ora realmente amputada
de nossa placenta.