sábado, 31 de maio de 2014

Uma palavra
Que lancei ao vento oeste,
Correu a Leste
Sul e Norte.
Abriu meu corpo como um abacate.

Bradei pela tua vinda.
Barganhei pela tua vida.
E eis que me apareces
Obsidiana crua
Talhada em flecha
Dia a dia
No ventre da terra.

Aguardarei
O dia para te lançar
Flecha corredeira
A furar nuvens e estrelas.
A percorrer anos e ventos
A buscar sentido
Nas coisas sem sentido.

Quando estiveres pronta,
Te lançarei certeira
De dentro de mim
Para o céu, o mar
E seus confins...

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Boi mudo

Boi mudo
Chibata no lombo.
Olhar tapado,
Compasso ribombo.

Que será do boi mudo?
O último a ser amado.
O primeiro a ser traído.

Que será desse bicho?
Zebu encarnado
Opulento macho
Pasto esmagado.

De onde tira a força, meu boi?
De onde tira o silêncio?
De onde tira essa beleza sanguínea,
Essa carne luzidia?

Boi mudo,
Espáduas comidas.
Gasto, roído

O que nos desavia, boi querido?
Meu vocábulo encolhido.
Teus calos sangrados.
Nossos lombos reatados?








terça-feira, 6 de maio de 2014

Monotom

Um e dois
No mesmo passo
Serrilham o compasso
Binário.
Breviário
Da existência.

Todos os dias
São.
E vivem os pormenores
Desse estado
em solidão

No entanto,
Tal música
Bem toada.
Na escada numerada
Dos dias
Só se faz em pares binários
Ternos ternários
Não raros quaternários
Passos que dão.

Um e dois são amigos e são bons.
Tem poucos preconceitos
Ou os tingem de outros tons...